sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

Vanildo Mendes dos Santos


Imagino a chegada desse cowboy ao far west chamado heaven. Montava ele um cavalo branco com arreio de prata? Estava na boléia de uma carruagem da Wells Fargo? Descia de um dos vagões de um trem da Union Pacific Railroad? Claro que não precisou obrigar São Pedro a abrir o portão dourado apontando um revólver. Foi, com certeza, o santo porteiro que abriu o portão sorrindo e o saudou a dizer:”Oi Ivanildo. Bem vindo. Este é o local ideal para os que vivem como adultos sem perder sua alma de criança. Meu chefe costuma declarar que pertence aos pequeninos – de qualquer idade – o Reino dos Céus”.
Torço para que São Pedro não o convide para assistir “O Último Samurai”. Esse filme recente traz Tom Cruise no papel principal, mas jamais será um bom programa para quem assistiu um autêntico western como “Shane”, por exemplo.
Ainda criança, Vanildo posou para uma foto vestido como se fosse um caubói. Tinha dez, doze anos e, à época, cuidava de arrumar um lugar nas longas filas das matinês do Cine Teatro Éden e Cine Ritz. Cedo elegeu Roy Rogers, Rex Allen, Rocky Lane e Johnny Mac Brown seus ídolos favoritos.
Daí por diante, não passou por sua mente a certeza de que havia nascido para “Matar ou Morrer” ou enfrentar todos os “Perigos de Nyoka”. E tanto foi assim que pouco depois da adolescência, teve que aprender a ser bancário e meticuloso, preso à manuais e à burocracia da maior organização financeira do país: o Banco do Brasil.
Talvez por influência de seus heróis do cinema, concedeu-se o direito de ser uma pessoa despreocupada com a coerência, pois seu exercício profissional significava nítido contraste com o seu modo de ser. Atuou qual Roy Rogers, sendo um bancário tipo aquele caubói jocoso e brincalhão que sabia, em certas horas, ser reservado, sério, crítico e duro.
O importante é que soube, por vezes, estar nos “Trilhos da Aventura”, buscar a “Paixão dos Fortes” e, como a vasta maioria dos homens, freqüentar o “Jardim do Pecado”, sem nunca esquecer que família é uma “Sagrada Herança”. Foi inflexível e tentou impor um futuro determinado aos filhos, mas resgatou-se como o mais solidário e o mais conciliador dos pais quando os fatos se fizeram mais fortes que os seus argumentos.
Com a esposa Francisca, teceu um pacto de amor e amizade, deixando-a desesperada com a sua brusca partida. Para ela, arrolou virtudes em sua “Mensagem de Agradecimento”, declarando serem essas virtudes capazes de sintetizara excelência de criatura humana que ela representa.
Li muito do que Vanildo passou a escrever, nos últimos anos sobre atores e atrizes de uma Hollywood lendária. Eram biografias interessantes, de fácil leitura. Um desses escritos ele me dedicou.
Estando em sua casa, dias após sua morte, logo que encerrado um teço em família, Gilka me franqueou passagem a um quarto de dormir. Nele, encontrei um verdadeiro “Álamo”. O quarto é um pequeno forte feito para resistir à sétima arte que desistiu do velho oeste e desempregou xerifes, pistoleiros, soldados da cavalaria e índios. A tropa de defesa de uma fronteira romântica são cerca de duzentos ou mais filmes clássicos de faroeste que estão nas prateleiras.
Nesse mundo de “Consciências Mortas”, Vanildo poderá ser mais um dos “Tambores Distantes”. O “Romântico Defensor” hoje virou índio de “Lança Partida”. Foi “Homem até o Fim” e sabia que estava “A um Passo da Morte”. Partiu para conhecer “A Grande Jornada”, sem medo de encarar “A Face Oculta”.
Esse artigo que acabo de escrever está distante onze dias do seu aniversário (ele nasceu em 21 de fevereiro 1942). Não sei se substitui o discurso que não fiz no cemitério.
Sei que este artigo é o pagamento de uma dívida de gratidão. Não posso deixar de ser grato a um fã “escancarado” de meus discursos, um admirador que os ouvia embevecido, deliciando-se a cada frase.
Sei que este artigo é uma manifestação de carinho meu, tentando levar um pouco de conforto à Francisca, Gilka e Sandro.
E aqui, por esta linha final, acho que vou ficando. “Adeus Amigo”.

Obs.: Aspas foram usadas para denotar títulos de filmes que se encaixavam, em algumas frases, com exatidão.

21 de Fevereiro de 1942
12 de Dezembro de 2007

Israel Correia

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