terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

História do Trem no Piauí






O PRIMEIRO TRECHO DA E.F.C.P.

A abertura do primeiro trecho da E.F.C.P., com um percurso de aproximadamente 86 km ocorreu no ano de 1922, ligando Amarração (Luís Correia) a Cocal.
Em termos desenvolvimentistas a ferrovia permitiu centralizar a economia nas principais cidades que eram paradas obrigatórias do trem. Das regiões produtoras próximas a esses pontos de exportação foram abertos novos caminhos, assim como foram abreviadas ou aumentadas antigas rotas coloniais que agora possuíam um sentido muito mais econômico do que ocupacional. Cocal, aonde a ferrovia chega primeiro no ano de 1922, absorve toda a produção agrícola e pecuária da zona da Ibiapaba. Das principais zonas produtoras e dos pontos de parada do trem que surgem posteriormente surgem aglomerações que hoje são cidades ou povoados como Cocal dos Alves e Frecheiras (Cocal)

O SEGUNDO TRECHO DA E.F.C.P.

Um ano depois de inaugurada a estação em Cocal, a ferrovia chega a Piracuruca.
A partir da chegada do trem a antiga cidade colonial torna-se a referência comercial de toda a região circunvizinha dinamizando a economia das zonas produtoras de carnaúba e de gêneros agrícolas do vale do Longá, do rio dos Matos e do próprio vale do rio Piracuruca. A produção destas regiões chegava à ferrovia em comboios de animais, abrindo, assim, novos caminhos entre as zonas produtoras e as estações ferroviárias.
Alguns desses caminhos seguem hoje o mesmo percurso das rodovias, porém, outros que antes eram definidos tomando como referência as regiões mais produtoras de gêneros agropecuários, tiveram, após a decadência da exportação, os seus percursos abreviados. Exemplo disso é a antiga estrada que ligava Piracuruca a Batalha.
Tendo hoje o seu curso abreviado pela PI-110, o antigo percurso seguia exatamente as zonas produtoras do vale fértil do rio dos Matos e dos riachos e fontes de água permanentes que existem entre Piracuruca e Batalha.
Até a abertura do trecho seguinte da E.F.C.P. (Piracuruca-Piripiri) em 1937, Piracuruca permanece como ponto de linha durante 14 anos.

1937 – A FERROVIA CHEGA A PIRIPIRI

O terceiro trecho a ser inaugurado da E.F.C.P., não seguiu exatamente o previsto no planejamento conforme transcrito em mapa do Ministério da Viação e Obras Públicas de 1913. O referido mapa previa a passagem da ferrovia pelo município de Batalha, percorria a zona produtora de carnaúba do vale do rio dos Matos e as ricas fazendas da região da Puba, cruzava com o rio Longá e teria uma estação na cidade de Barras de onde seguiria para Campo Maior.
A EFCP, no entanto, quando da continuidade da sua construção a partir de Piracuruca, tem o seu curso direcionado para Piripiri. Desconhece-se o motivo que levou o governo a desviar o curso da ferrovia para esta cidade, mas pela importância que ainda hoje possui Piripiri, como entroncamento rodoviário, acredita-se no motivo da sua posição estratégica como zona receptora da produção de uma considerável região e pela própria cidade que já nasce no leito fértil do rio dos Matos como grande produtora agrícola desde meados do século XIX. Com a abertura do novo trecho da E.F.C.P., um novo horário passa a vigorar nas viagens do trem.

O TREM E OS NOVOS VALORES DA SOCIEDADE

Já se observa, no aspecto da chegada do trem a Piripiri, como a reação das pessoas à nova tecnologia, é da chegada de uma nova possibilidade de desenvolvimento à região, mas também de uma mudança nos valores e uma influência que se perpetuará por muito tempo nos padrões de consumo e no comportamento da sociedade. Comportamentos e valores que não nascem com a chegada do trem, mas que se readaptam aos novos tempos, pois é este moderno que permitirá sair o cheiro de guardado da roupa mais “chique” e, vestido em um terno branco, aguardar a chegada da locomotiva.
Mas os lugares por onde o trem passava e toda a região de influência da economia agro-exportadora, também sofreu influência direta dos novos hábitos e costumes introduzidos pela nova tecnologia sobre trilhos. A intensificação do comércio de exportação satisfaz grandemente as vaidades de uma sociedade nascida nos ambientes rurais e que teve sempre como referência de todas as relações sociais, a família e a fazenda. Os novos hábitos de consumo são incorporados dentro desses valores campesinos que se adequam à urbanidade. É notório como nas propagandas de casas comerciais o povo é estimulado ao consumismo que satisfaz principalmente suas vaidades, e o comercial é sempre reforçado pela imagem do proprietário (um “homem bom” da sociedade). São os valores rurais plenamente adaptados ao novo modo de vida que chega de trem ao Piauí.
É também com a chegada do trem que novos valores são introduzidos como resultado da influência estrangeira. Além do modo de vestir, da arquitetura neoclássica dos novos prédios, do reordenamento urbano das cidades nos moldes europeus, a cultura musical urbana é também absorvida dentro dos padrões da sociedade Piauiense. A cultura carnavalesca, por exemplo, nascida nos subúrbios cariocas como uma cultura da ralé urbana, em Piracuruca ganha um perfil de cultura elitista já que nem todos tinham essa oportunidade de ter contato com o novo ou de desfrutar das novas tendências da moda que também chegavam na barulhenta e fumaceira “Maria Fumaça”.

A ESTRADA DE FERRO E O PROGRESSO DO PIAUÍ

A Estrada de Ferro representava de tal maneira o progresso econômico do Piauí que os projetos do governo para execução no futuro eram grandiosos. Projetava-se, conforme o mapa em anexo, a construção da ferrovia a partir de Teresina interligando as zonas produtoras do Piauí atém o vizinho Estado de Pernambuco. A partir de Teresina a ferrovia cortaria toda a zona produtora do médio Parnaíba e acompanhando o curso do rio Canindé até sua nascente (Paulistana) faria contato com estrada de ferro vinda de Petrolina e interligando, conseqüentemente, com Recife.
Outras tecnologias, como a linha telegráfica, são implantadas junto com o trem interligando as principais cidades piauienses que estavam não apenas na zona de influência da ferrovia, mas também no próspero vale do Parnaíba, navegado em quase toda sua extensão desde a segunda metade do século XIX. O trem cortando a mata trazia e levava riqueza, mas também trazia uma sensação de progresso que não estava tanto nas rendas obtidas pelo lucrativo comércio da carnaúba, mas na possibilidade de programar a vida em torno de um telégrafo, de um rádio ou de uma máquina a vapor que apitava a hora da chegada e a hora da partida e não esperava nem o canto do galo nem o berro do boi para dizer a hora certa de cada coisa. Um trem que quando chegava trazia progresso, e quando partia parecia não se ausentar da vida daquela gente, agora cronometrada pelo dia e hora da sua volta.

DISTÂNCIAS ENTRE AS ESTAÇÕES

AMARRAÇÃO 0.000
FLORIOPÓLIS 7.612
CATANDUVAS 10.120
PARNAÍBA 13.602
MARRUÁS 42.703
BOM PRINCIPIO 50.452
FRECHEIRAS 74.258
COCAL 86.743
DESERTO 108.688
PIRACURUCA 147.578
BRASILEIRA 173,368
PIRIPIRI 191.018

Fonte:

Estação Piauí

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