quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Uma Claúdia de Parnaíba


Era uma vez um agrônomo belga que escapou da guerra de independência do Congo e decidiu morar na Etiópia. Lá, conheceu uma indiana, de uma família católica de Goa. Foi paixão à primeira vista. Tiveram quatro filhos: Anthony, Brigitte, Claudia e Doreen. A guerra civil, na década de 70, acabou com a ótima vida que levavam. Fugiram sem nada. Quando a família chegou a Petrolina, no agreste de Pernambuco, onde o pai foi trabalhar em um projeto de irrigação, Claudia tinha 10 anos. Da vida de princesa em Adis- Abeba, restou um tutor, uma exigente escola francesa por correspondência e uma rotina isolada, alheia às agruras do sertão em volta. "Me sentia estrangeira, diferente." Mas ela e os irmãos queriam se integrar, estudar em uma escola de verdade. O jeito foi mudarem para a capital, com a mãe, enquanto o pai permanecia no interior. Claudia se formou em engenharia eletrônica, fincou raízes, conheceu Fernando, casou-se.

Até que uma tragédia fez girar a roda do destino mais uma vez. Assaltantes invadiram a casa de Petrolina e assassinaram seu pai. Revoltados com a violência no país, Claudia e Fernando resolveram morar em Miami, onde abriram uma filial da loja de eletrônicos que tinham em Recife. Viveram seis anos nos Estados Unidos e lá tiveram seus três filhos, Gabriel, 8 anos, Lucas, 6, e Alec, 3. Claudia pôde também realizar seu grande sonho: começou a fazer mestrado em educação pelo método montessoriano para se tornar professora. Era a resposta que procurava para criar os filhos. "Quero educá-los de um jeito menos rígido do que aquele como fui educada. E o método montessoriano é, na verdade, uma filosofia: ouve a criança, deixa que se expresse e dá a ela o poder das escolhas."

Nessa tarde quente na escola montessoriana ArcoÍris, na tranqüila Parnaíba, 360 quilômetros ao norte de Teresina, onde seus filhos também estudam, Claudia, 39 anos, acaba de dar aula de matemática. Em frente à sala, um cajueiro centenário solta frutos no chão, perfumando o ambiente. No pátio sombreado, enquanto as crianças brincam no recreio, Claudia fala por que encontrou ali a tão sonhada paz: "Nos Estados Unidos, a gente tinha do bom e do melhor. Mas viver naquela sociedade obcecada pelos valores materiais me incomodava. Em Parnaíba, estão meus sogros, o sagrado convívio com a família, o sossego. O dinheiro é curto, mas fui uma criança que perdeu tudo na guerra. Não tenho medo".

Da mãe herdou a pele cor de azeitona, os cabelos negros e lisos, o nariz aquilino e os olhos escuros e fundos. Parece mais indiana ainda com as pulseiras típicas nos tornozelos e os anéis nos dedos dos pés. Só falta o sári, em lugar do jeans e da camiseta, uniforme da escola. Da mãe também veio o espírito de independência e a dedicação ao bem-estar dos filhos. "Ela enfrentou a família e jurou que só se casaria com um estrangeiro, porque não admitia que alguém tivesse que pagar um dote pela sua mão, uma tradição na Índia. E dedicou a sua vida a nos educar. Quero fazer a mesma coisa. Meus filhos norteiam as minhas escolhas."

Fonte:
http://claudia.abril.uol.com.br

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