ISTOÉ - Um motivo para a sra. não ter esganado Isabella.
Anna Carolina - Eu amava, amo e amarei a Isabella para o resto da minha vida. Para mim, ela era minha filha. Não esganei ninguém.
ISTOÉ - Se tudo isso tivesse acontecido com outro casal, a sra. teria ido para a porta da delegacia e do IML e ficaria berrando "assassina, assassino"?
Anna - Não sei dizer, eu não sei dizer.
ISTOÉ - A polícia lhe fez perguntas, dizendo ter a perícia em mãos, mas não a tinha. Por quê?
Anna - Para me incriminar. O interrogatório foi cheio de pegadinhas. Eles queriam que eu caísse em contradição, não conseguiram porque eu só falei a verdade. Disseram que tinha sangue na minha sapatilha e me forçaram a explicar. Como poderia ter sangue se eu tirei os tamancos quando cheguei ao apartamento, desci descalça para socorrer a Isabella e essa sapatilha só calcei depois, na casa dos meus pais, onde cheguei descalça? Não cai em pegadinha quem diz a verdade.
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ISTOÉ - Conte sobre aquela noite.
Anna - O Alexandre subiu primeiro com a Isabella. Enquanto ele subia, eu vi um carro preto na garagem, com som ligado, e ouvi voz de homem e mulher. O Alexandre voltou, subimos com os outros filhos, ele com o Pietro e eu com o Cauã. Quando entramos no apartamento, deixei meus tamancos na cozinha. O Alexandre, depois de olhar o quarto da Isabella, perguntou surpreso onde ela estava. Fui ao quarto dela e vi o edredom revirado e o sapatinho no chão. Pensei que estava na nossa cama, olhei e não estava, fomos ao quarto dos meninos, foi aí que vimos a tela rasgada, o Alexandre subiu na cama e pôs a cabeça para fora através do furo, com o Pietro ainda no colo. O Alexandre começou a berrar, eu gritava, os meninos acordaram. Eu não acreditava, também fui olhar e vi o corpinho dela no chão jogado...
ISTOÉ - Todo esse seu choro é só porque a sra. está presa? Se estivesse em liberdade, tudo bem?
Anna - Choro porque a Isabella morreu, choro de dor, choro porque estou pagando por uma coisa que não fiz.
ISTOÉ - Como era o seu relacionamento com a dona Ana Carolina Oliveira, mãe biológica de Isabella?
Anna - No começo, eu tinha um pouco de ciúme, depois que o Pietro nasceu o meu ciúme passou, eu amadureci muito. Eu tinha um ciúme normal de mulher, tanto que freqüentava a sua casa quando ia apanhar a Isabella.
ISTOÉ - Segundo o inquérito e a denúncia, a sra. teria esganado por ciúme.
Anna - Eu não esganei ninguém.
ISTOÉ - Segundo a polícia, havia sangue na bermuda de Alexandre e esperma e fluido vaginal em sua calça jeans, pressupondo uma relação sexual apressada, sem se despirem totalmente. Isso ocorreu no dia da morte de Isabella?
Anna - Eu ri quando a polícia falou isso. O sangue na bermuda do Alexandre é porque ele encostou muito na Isabella caída, tentando salvá-la. No meu jeans, o que a polícia falou que era esperma ficou provado ser bolo de chocolate que comi na casa dos meus pais e derrubei na calça. Era sobra do bolo do aniversário do meu primo, que foi comemorado na véspera. Os policiais queriam que fosse esperma e secreção de vagina. Os testes deram bolo de chocolate.
ISTOÉ - A sra. conheceu a mãe de Isabella antes de conhecer o Alexandre?
Anna - Não. Nós nos conhecemos pelo MSN, eu já estava com o Alexandre. Ela me pediu para levar o Pietro à casa dela. Foi assim que nos conhecemos pessoalmente.
ISTOÉ - Diz o inquérito que a sra. seria "barraqueira". Teria até machucado o braço numa briga porque quebrou com ele o vidro da lavanderia.
Anna - Se sou "barraqueira" e me machuco, isso mostra que eu machuco a mim mesma e não parto para cima do outro.
ISTOÉ - Como era estar livre e agora estar presa?
Anna - Choro todos os dias. Quando passo entre as presas, algumas ficam fazendo com a boca "pol, pol, pol", esse é o código de que vão me matar.
ISTOÉ - Como é vestir calça bege e camiseta branca todos os dias?
Anna - Péssimo.
ISTOÉ - Isso já mexeu com sua vaidade e feminilidade?
Anna - Vou me arrumar para quê? Não tenho mais vontade de nada.
Fonte:
Antônio Carlos Prado
Revista Época
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