O artigo “Parnaíba – Idade Incerta”, de autoria dos alunos do Colégio Edson da Paz Cunha, publicado no dia 11 de janeiro do corrente ano, traz a polêmica sobre a real data de existência de Parnaíba, declarando que deveria completar 246 anos de existência e não 164 anos como foram comemorados no dia 14 de agosto de 2008.
Tiveram os alunos por base o livro “Piauhy, na terra dos Tremembés”, do Sr. Diderot Mavignier, página 26, levando em conta o ano de 1762 quando o então governador da Capitania São José do Piauí, João Pereira Caldas, elevou o povoado a categoria de Vila São João da Parnaíba. Tanto para o Sr. Diderot Mavignier e Sr. Mário Pires, citados no artigo, informa: “o fato de as cidades acima já serem vilas à época, é fato notório de que a comemoração de cidade deve partir de 1762, ou seja, Parnaíba completou 246 anos de existência”
Sinceramente de sã consciência não posso concordar com a opinião de que deva ser contada a data de existência a partir de 1762. Faz-se necessário chamar a atenção que antes de 1762 já existia o povoado que já vinha sendo chamado de vila, embora não fosse ainda oficialmente por lei. Em 1762 Parnaíba não teve seu início de povoamento, o que aconteceu muitos anos antes. O início se leva em conta a data em que foram derrubadas as matas e construídas as primeiras casas dando origem ao povoado.
Em 1710 já se encontravam presentes o coronel Pedro Barbosa Leal que recebeu autorização em 1711 e licença do bispado do Maranhão para ser erigida a sua ermida em honra a Nossa Senhora do Monte Serrate, o capitão-mor João Gomes do Rego Barra que em 1725 recebeu carta de sesmaria de terras na Ilha Grande de Santa Isabel, sendo seu primeiro povoador, agricultor e criador de gado vacum, e o mestre-de-campo Antônio da Cunha Souto Maior. A localização do documento de 1711 na Sé de São Luís deve-se ao padre Cláudio Melo, de saudosa memória. Vi esse documento, mas devido ao péssimo estado de conservação não foi possível tirar cópia.
Os documentos de 1711 e 1725 nos chamam a atenção para dois importantes itens: primeiro, o documento de 1711 referindo-se ao coronel Pedro Barbosa Leal consta “que ele suplicante quer fundar na sua Vila” o que leva a entender ser ele o fundador do povoado; segundo, no documento de 1725 consta “rendoso aos Dízimos há sinco annos como constava a todos os vizinhos”, o que se deduz a existência de outros moradores e que “o coronel Pedro Barbosa Leal tem terras em tanta quantidade que as está dando e aforando a quem lhe parecesse e ainda tem muito por povoar”. Na realidade o coronel Pedro Barbosa Leal encontrou alguns moradores, os reorganizou dando origem a um povoado e construiu a pequena ermida que daria status ao novo núcleo de povoamento chamando-o de Vila Nova da Parnaíba.
A construção de uma igreja, mesmo humilde, era uma necessidade para a institucionalização da vida do povoado, e a oficialização de sua ermida visitada por um padre prover as necessidades mínimas da população, principalmente termos de registros, de conforto espiritual, pois no pequeno templo seriam efetivados os casamentos, os batizados, os falecimentos e as celebrações religiosas. Havia também a possibilidade da pequena capela a ser elevada um dia a matriz, o que significaria ao povoado a sua elevação a status de paróquia ou freguesia. A Igreja se fazia representar por esta humilde capela e em torno dela cresceria o povoado.
Na carta de data de sesmaria concedida a João Gomes do Rego Barra, datada de 14.7.1725, ao solicitar também como sesmaria o riacho Pirangi, área que pertencia a Parnaiba, aonde possuía criação de duas mil cabeças de gado vacum, alega: “vay por cartoze annos com doação feita vocalm.te pello coronel Pedro Barbosa Leal. Isso leva claramente a conclusão de que ha quatorze anos já se encontrava na região juntamente como o coronel Pedro Barbosa Leal, ou seja: 1725 – 14 = 1711.
Convém lembrar que em 1712 o governador do Maranhão, João Velasco de Molina, autorizou o mestre-de-campo Antônio da Cunha Souto Maior combater os índios sublevados por Mandu Ladino. Ano em que a Vila da Parnaíba foi atacada pelos índios rebelados. Se não existissem moradores nesse ano os índios não teriam atacado a vila.
Embora o coronel Pedro Barbosa Leal tenha reorganizado os primeiros moradores formando o povoado, e no documento de 1711 indicando como fundador da Vila da Parnaíba como consta: “que ele suplicante quer fundar na sua Vila” é assunto questionável. Fundador é aquele que primeiro se estabelece em certo lugar. Se ele já encontrou algumas pessoas residindo no lugar, somente certos documentos ainda não pesquisados, que não se encontram em São Luís, nem no Piauí, nem no Ceará e Recife, poderá provavelmente elucidar o assunto. Isso na esperança que eles possam realmente constar as informações necessárias. No entanto, enquanto outro documento não for encontrado continuará sendo o coronel Pedro Barbosa Leal o fundador da Vila da Parnaíba, a atual cidade de Parnaíba.
Sobre o coronel Pedro Barbosa Leal a maioria dos documentos até o momento pesquisados apresenta sua atuação na Bahia e outras regiões No ano de 1710, figura na lista dos Irmãos Ministros que tem servido a Ordem Terceira dos Frades Menores da Província do Brasil, conforme “Novo Orbe Seráfico Brasileiro, ou Crônica dos Frades Menores da Província do Brasil”, escrito pelo Fr. Antonio Santa Maria Jaboatam, Lisboa 1761, pág. 312, reimpressa em 1858. Em 1719 aparece como coronel comandante da Companhia de Infantaria da Ordenança dos Homens Pardos. A 2 de junho de 1722 preside solenidade como representante do Vice-Rei e do Governador da Província da Bahia, Vasco Fernandes César, na instalação da Vila Santo Antonio de Jacobina. “Já em 1725, o sertanista Pedro Barbosa Leal, em correspondência ao Visconde Sabugosa, Governador-Geral do Brasil, relata as aventuras de Morêa nos primeiros anos do século XVII em várias serras e no vale do rio São Francisco, localidade onde teria descoberto minas de ouro, de prata, pedras preciosas e também salitre” (“Entre as montanhas e o mar: Trabalho, conquista e aventura nos sertões mineiro e baiano. Século XVIII” - Isnara Pereira Ivo – XXIV Simpósio Nacional de História – 2007). Em alguns documentos aparece prendendo negros rebelados a mando do governador da província.
Embora Pedro Barbosa Leal não tenha permanecido na Parnaíba não lhe tira os méritos de ter organizado os moradores em povoado dando origem a uma nova vila. Encontrou-se na documentação que ele esteve trabalhando junto com a Casa da Torre e que faleceu no ano de 1734.
Ao se retirar de Parnaíba, por motivos desconhecidos assim também como é desconhecido os motivos da sua presença, deixou como seu procurador e responsável pelos seus negócios e interesses o seu amigo João Gomes do Rego Barra.
Com relação ao documento de nomeação do padre mestre João da Conceição para vigário da ermida é preciso certa cautela, haja vista que muitas vezes padres nomeados para determinados lugares não chegaram a assumir suas funções. Faz-se necessário a apresentação do documento do próprio padre informando ao bispado de São Luís a sua posse, como aconteceu com os padres que vieram benzer a Igreja Nossa Senhora do Rosário.
O assunto sobre a data 1711 de que Parnaíba terá em 2011 a idade de 300 anos foi motivo de reunião na Câmara Municipal de Parnaíba.
Entre os documentos existentes em determinado arquivo, dos poucos recebidos podemos encontrar alguns dos primeiros moradores de Parnaíba: João Rabello Bandeira, Manoel Rebello e Silva, Francisco Pereira Rebello, Mariana Castelo Branco, Paulo Affonso, João Batista Vergonha, Francisco Tavares Coelho, Domingos Fernandes de Lima, Vicente Fernando Colaço, Simão M. Rebello, Hilário Pereira da Conceição, Manuel Rebelo Bandeira, Ana Maria Pereira Rego, Francisco Lopes de Sousa.
Quer queira ou não o documento da Sé de São Luís, datado de 1711, é a certidão de nascimento da Parnaíba, assim como a carta de Pero Vaz de Caminha é a certidão de nascimento do Brasil. De maneira que no dia 11 de junho de 2.011 a cidade de Parnaíba completará 300 anos de existência.
Teresina (PI), 19 de janeiro de 2009
Dia de São João, Bispo (+595)
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